quarta-feira, 15 de junho de 2011

CORDEL DO NILDO CORDEL - TANGÊNCIA


Não sei de onde eu venho
Muito menos pra onde vou
Sei apenas que existo
Duvido do que eu sou
Mas não posso ignorar 
Àquele que me criou.

Sou obra de um soberano
Sou membro da natureza
Sou filho de divindade
Por isso tenho grandeza
Sou ator do dia-a-dia
No palco da sutileza.

Não reclamo da má sorte
Agradeço as aventuras
Fico triste se por vezes
Sou vitima de desventuras
Não falo mal dos impuros
Porque não tenho mãos puras.

Canto o canto do vento
Danço com o dessabor
Faço dupla com o tempo
Contemporizo o amor
E para me perfumar
Uso o perfume da flor

Não sou mais do que o pó
Que levanta levemente
Sou a barreira que separa
O imoral do decente
Não sou mais do que ninguém
Sou um homem, simplesmente.



domingo, 18 de julho de 2010

CORDEL DO NILDO CORDEL - FRANCISQUINHA

Sou poeta de cordel
Trago no sangue esta sina
Na arquitetura do verso
Minha mente não declina
Por isso vou construir
Mais uma obra com rima.

O que agora vou versar
É fato, não é mentira
Aconteceu a uma jovem
Da cidade de Cupira
Em solo pernambucano
No Sitio da Macambira.

Francisca moça pacata
De perfeita educação
De casa só se afastava
Para seguir procissão
Ir a enterro de parente
E em dia de eleição

Filha educada e zelosa
Em casa tudo fazia
Costurar, bordar, Cingir
Francisca tudo sabia
Era na cozinha a fada
Que todo homem queria

Sua fama de pureza
Corria toda cidade
Os moços todos sonhavam
Gozar de sua amizade
E prêmio maior seria
Desposar essa beldade.

Porém vê-la para muitos
Sorte grande já seria
Pois Francisca não ousava
Andar pela freguesia
Por segurança, em casa
Tinha tudo o que queria.

De segunda a sexta-feira,
Para educar a donzela
Uma freira contratada
Estava sempre com ela
Pois Francisca era uma jóia
Educada, santa e bela.

Por outro lado Raimundo
Um cidadão galhofeiro
Era a imagem do cão
Preguiçoso e bagunceiro
Que tinha passado uns tempos
Lá no Rio de Janeiro.

Com sotaque carioca
Puxando para o paulista
Raimundo lá em Cupira
Parecia um artista
Todas as moças da cidade
Figuravam em sua lista.

Um sujeito extrovertido
Bem quisto pela cidade
Amigo de todo mundo
Por sua sagacidade
Bonito, bom de conversa
Mas de pouca qualidade.

Todas as moças da cidade
Tinham a ele namorado
Mas nenhum pai gostaria
De ver Raimundo casado
Com sua filha e vivendo
Pra dentro do seu cercado..

Mas sabemos que o destino
Traça seu próprio caminho
E dessa forma juntou
Como galhos para um ninho
Raimundo e Francisquinha,
O "gato" e o "passarinho".

Um parente de Francisca
Naqueles dias morreu
Nesse velório a mocinha
Ao Raimundo conheceu
E seu doce coração
Por ele forte bateu.

Francisca não conhecia
A maldade desse mundo
E caiu fácil na lábia
De seu galante Raimundo
Que na arte do xaveco
Era um verdadeiro imundo.

Botou a mão na mão dela
Falando com muito estilo
Francisca ouviu passarinhos
Cantando junto com grilo
E Raimundo foi em frente
Colocando a mão naquilo.

Francisca endurecida
Fitava o namorado
Que pegando a mão dela
Com carinho e com cuidado
Foi pondo sem cerimônia
Em cima do seu cajado.

Francisca por puro instinto
Segurou o animal
Porém num susto em seguida
Tirou a mão do local
E perguntou: Raimundinho,
Pra quê guardas este pau?

Raimundo muito sacana
Com toda tranqüilidade
Disse: Francisca querida
Quanta ingenuidade
Isso aí é uma agulha
De costurar virgindade

Francisca examinou-a
E disse: Como é grossinha
E prosseguindo o exame
Encontrou uma fendinha
E perguntou ao Raimundo:
É aqui que põe a linha?

Seguiu dizendo: Raimundo
Gostei dessa novidade
Se essa agulha aí
Faz o que dizes de verdade
Levantas, vem e costura
Logo a minha virgindade.

Raimundo quis sair fora
Mas Francisca de pressinha
Fechou a porta da frente
Em seguida a da cozinha
E já retornou à sala
Sem vestido e sem calcinha.

Raimundo ficou sentado
Com o rosto empalidecido
E Francisca insistindo
Costura noivo querido
Pegando no instrumento
Sentiu ele amolecido.

Deu um salto para trás
Dizendo: pode ir embora
Porque homens mentirosos
Eu conheci muitos aí fora
Mas um frouxo e boxador
Fostes o primeiro agora.

Olhando para Raimundo
Disse dando uma risada:
Vou revelar-te uma coisa
Raimundo meu camarada
O padre que entra e sai
Aqui, sou eu disfarçada.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Para falar de cordel



A Literatura de Cordel é uma das mais antigas manifestações culturais do Brasil, e tem suas raízes fincadas nos pregões, que eram anúncios cantados no Portugal Medieval.




No Brasil, a literatura de cordel foi mais difundida no Nordeste e ganhou este nome devido à forma como era vendida. Os poetas populares criavam suas obras e como eram na sua grande maioria analfabetos, decoravam e em seguida faziam suas apresentações nas feiras e salões das cidades do interior do Nordeste. Muitas vezes a ordem era inversa, isto é, devido à grande capacidade de memorização destes artistas, durante uma apresentação, eles criavam uma nova história e ao mesmo tempo a decorava e passava a cantá-la, ou recitá-la por onde passava.


Alguns autores passaram a imprimir estas poesias e a vendê-las nas feiras e festas populares. Para chamar a atenção de público, eles expunham os livretos em cordéis presos a estacas, o que origem ao nome e para aguçar o interesse do publico cantavam ou recitavam partes do livreto, (folheto) e só retomavam a leitura após vender uma quantidade de livros por ele determinada.


Uma das características principais da Literatura de Cordel é a sua forma, que por sua história e importância para a nossa cultura não deve ser modificada ou deturpada. A base da literatura de cordel são versos de sextilhas, estrofes de seis linhas com versos de sete sílabas. O esquema básico de rima para o cordel e ABCBDB, onde o segundo verso rima com o quarto e com o sexto e os versos um, três e cinco são soltos. Outras formas de rima podem ser apresentadas como ABBAACCDDC, ou AAABCCCB, entre outras.


Exemplo I:






EU E VICENÇA – Autor desconhecido




A - Quando solteiro eu vivia
B - Era o maior aperreio
B - Alem de ser muito feio
A - As muié não me queria
A - Pra toda banda que eu ia
C - Com um camarada meu
C - Ele confiava n’eu
D - Ia beber e fumar
D - Fazer bagunça e brigar
C - E quem ia preso era eu...


Exemplo II:


VAQUEIRO ABADONADO – Não achei o autor


A - Fui um vaqueiro afamado
A - Mas estou velho e cansado
A - E minha luta de gado
B - Vou entregar ao patrão,
C - Sem fugir do evangelho
C - Na tristeza me emparelho
C - Por que um vaqueiro velho
B - Não tem mais disposição.


Qualquer outra forma de poesia, que fuja às regras acima e outras mais complexas, como o martelo, o quadrão, o galope,  como o que vemos abaixo, em respeito a esta arte, não pode ser chamada de cordel.
Sou homem e faço verso
Por que gosto de mulher
Também gosto de café
Outra paixão que confesso.


Para ilustrar este arte segue as belas estrofes inicias de obras primas do Cordel.


Do Cordel “A INTREGA DO CACHORRO COM O GATO”, autor José Pacheco, naturalidade imprecisa. Correntes PE ou Maceió – AL.


A intriga é mãe da raiva
O mau pensamento é pai
Da casa da má querência
O desmantelo não sai
Enquanto a intriga rende
A revolução não cai...


Do Cordel “A PRINCESA GENI E O REINO MONTE DE OURO” editor João José da Silva – Não consegui informação sobre o autor. Um acróstico no final do livro trás o nome Luiz de Lira, que pode ser o nome do autor.


Eis um mistério em poema
Exposto ao nosso cântico
Drama passado num reino
De um povo bem romântico
Que vivera muito além
Do Oceano Atlântico...


Do cordel “O HERÓI JOÃO DE CALAIS” de Severino Borges da Silva – Aliança–PE.


Vinde musas que habitam
As regiões divinais
E banham-se nas santas águas
Das fontes celestiais
Que vou versar o romance
Do herói João de Calais...


O cordel continua vivo e precisa de apoio e divulgação. Para você que gosta, uma dica é a livraria Cortez em São Paulo e a Editora Luzeiro. Busque na Net, você vai encontrar muita coisa boa. Tem também o site da ABLC, Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que mantem viva esta bela tradição cultural.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

CORDEL DO NILDO CORDEL - O MENINO QUE MORA EM MIM

O menino que mora em mim
 E mais menino que eu
 O menino que mora em mim
 É menino que não cresceu
 O menino que mora em mim
 Faz dele o que já foi meu.

  
O menino que mora em mim
 Carrega um sonho ligeiro
 Navega em mares que não viu
E sonha ser o primeiro
 O menino que mora em mim
 Tem sonhos sem paradeiro.

O menino que mora em mim

 Ainda nem aprendeu
Por completo o beabá
 Da vida que Deus lhe deu
 O menino que mora em mim
 É o menino que já fui eu.

O menino que mora em mim
 Ainda não viu nascer
 O homem que mata a vida
 Tentando a vida viver
 O menino que mora em mim
É dono do seu querer.

 O menino que mora em mim
 É feliz e sonhador
 Não conhece a ténue linha
 Entre o ódio e o amor
 O menino que mora em mim
 Desconhece o que é dor.

  O menino que mora em mim
 Não quer ser o derradeiro
 O menino que mora em mim
 Carrega amor verdadeiro
 O menino que mora em mim
 Prega a paz ao mundo inteiro.

O menino que mora em mim
 Deixa-se ainda chorar
 Tem pureza nos desejos
E beija só por beijar
 O menino que mora em mim
 Quer pelos ares voar.

O menino que mora em mim
 Ainda vive sereno
 O menino que mora em mim
 É um menino pequeno
 E não sabe que o poder
 É um terrível veneno.

O menino que mora em mim
 Quando em mim se achar
 Vai pensar que estar sonhando
 E vai querer acordar
 Pois que nisso se tornou

 Não vai querer aceitar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

CORDEL DO NILDO CORDEL - CARTA A UMA INGRATA

Pego papel e caneta,

Carregado de emoção
Para escrever uma carta
Com rimas do meu sertão
Endereçada a uma ingrata
Que roubou meu coração.

Ingrata estes meus versos
São só para lhe dizer
Que se sua pretensão
Era me fazer sofrer
Meu sofrimento é intenso
Dói muito meu padecer.

Sentindo a sua falta
Perambulo pela rua
Em cada vulto que encontro
Eu vejo a face sua
E choro desesperado
Na companhia da lua.

Retornado ao meu quarto
Entrego-me ao desespero
Fazendo do pensamento
O meu fiel conselheiro
Sentindo a sua falta
Abraço seu travesseiro.

Depois de muito chorar
Faço do chão meu divã
Dormindo sonho consigo
Quando acordo de manhã
Ainda trago na boca
O gosto de seu baton.

Eu daria a minha vida
Pra este sofrer ter fim
Chorando eu peço aos santos
Que tenham pena de mim
E vou tentar lhe encontrar
Entre as flores do Jardim.

Na solidão do jardim
O vento trás seu perfume
Uma flor em pleno viço
Sua beleza resume
E das abelhas que sugam
Tal flor, eu sinto ciúme.

Então afasto as abelhas
Tentando a flor beijar
Lembrando de seus afagos
Ponho-me tristonho a chorar
Lamentando a triste sina
De quem nasceu para amar.

O vento sopra macio
Com suave mansidão
De Leva toca meu rosto
Fazendo meu coração
Confuso pensar que é
O toque de sua mão.

Já não tenho mais assunto
Estou de planto banhado
Porque sei que é triste a sina
De um homem apaixonado
Que dedicou sua vida
Para amar sem ser amado.

E terminando esta carta
Escrita com emoção
Grafada com minhas lágrimas
No papel da solidão
Deixo para quem amei
Um beijo no coração.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

CORDEL DO NILDO CORDEL - O TERRORISMO DE ESTADO

Hoje eu estou mais triste

E muito aperreado

Ao ver que com gente Inocente

Um barco foi bombardeado

Prova que Israel pratica

Um terrorismo de estado.



Antes já me doeu muito

Ao ver uma imagem forte

De uma foto com uma grávida

Que não teve muita sorte

Com uma frase que dizia

“Um só tiro, duas mortes”.



Agora como num jogo

Fez uma falta na área,

O Exercito Israelense

Faz execução sumária

Atacando um navio

De ajuda humanitária.



Dona ONU isto é PENALTY

É falta para expulsão

Não se pode deixar

Tal fato sem punição

O conselho permanente

Tem que aplicar sanção.



Não pode haver no mundo

Dois pesos e duas medidas

Assim como outros paises

Tem punições desmedidas

Israel não tem direito

De atentar contra as vidas.



Não estou nestes meus versos

Esquecendo do passado

Mas não podemos por isso

Num ato dissimulado

Deixar que um erro ateste

Outro erro praticado.



Meus versos são um repudio

A toda e qualquer ação

Que vá de contra ao direito

Soberano da nação

Independente da raça

Do credo ou religião.



Não venham agora para o mundo

Com uma resposta vaga

Não posso eu concordar

Com esta terrível saga

Não é certo que terrorismo

Com terrorismo se paga.



Está fito o meu protesto

Neste meu cordel rimado

E para que não esqueçam

Digo em verso sublinhado

Israel está fazendo

Um terrorismo de estado.

sábado, 15 de maio de 2010

SÃO PAULO, UMA NOVA RIO...

  Este poema foi escrito em 30/05/09, por ocasião de protestos de moradores de uma favela na ZL de São Poulo, por causa do assassinato de um suspeito pela polícia militar.

Camaradas de jornada

Meus leitores e Blogueiros
Devemos ficar ligeiros
Pra uma nova jornada
Nossa cidade, coitada
Ta vendo o que nunca viu
Parece guerra civil
Eu queria estar brincando
Mas estou presenciando
São Paulo, uma nova Rio.

Primeiro, estão lembrados
Daquela depedração
Que em cuja ocasião
Ficamos paralisados?
Ônibus e trens depedrados
Assustou todo Brasil
Porem ninguém assumiu
E a imprensa esqueceu
Mas São Paulo pareceu
Ser mesmo uma nova Rio.

Que tudo aconteceu
Parece que faz um século
E então naquele espéculo
Nossa São Paulo perdeu
O Governo se elegeu
Prometeu e não cumpriu
A segurança sumiu
E já podemos notar
Que nossa São Paulo estar
Virando uma Nova Rio.

O crime mostrou as caras
Primeiro em Paraisópoles
Deixando nossa Metrópole
Presa num cerco de varas
E isso deixou as claras
Que o crime decidiu
E de vez já assumiu
O comando da cidade
E São Paulo de verdade
É hoje uma Nova Rio.

Eu falo isso por que
São Paulo está sitiada
Há pouco vimos parada
A Marginal Tietê
Dói-me, mas digo a você
O nosso Estado Ruiu
E vítima a cidade se viu
De sua ineficiência
Afirmo com consciência
São Paulo é uma Nova Rio.

Agora na Zona Leste
Mas um foco de maldade
De novo a sociedade
Vê cenas de faroeste
Destes bandidos da peste
Autores de ato vil
Que mancha nosso Brasil
Nos confins do mundo inteiro
Plagia o Rio de Janeiro
São Paulo, a Nova Rio.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

PEÃO POESIA

Quer mesmo saber quem sou,
Pois bem, eu vou lhe falar:
Sou um cidadão comum
Vivo para trabalhar,
Não tenho tempo para ler,
Para escrever, para amar.

Juro, um dia eu quis se eu,
Mas não me deram valor...
Sou mão de obra barata,
Sou um pobre sonhador,
Sou um jovem embrutecido
Que a vida emborrou.

Eu moro lá na favela,
Em um pequeno barraco.
À noite eu e meus filhos
Nos misturamos com trapos
E dividimos um espaço
Do nosso chão com os ratos.

O chão é a minha cama,
Latas vazias, as panelas...
Minha rua é só um beco
Pois eu moro na favela
E só conheço a fartura
Porque assisto ás novelas.

Mas para sua surpresa,
Eu não sei tocar viola,
Nem vou à Praça da Sé
Não tenho tempo e nem hora
A construtora é meu Campus
E a TV minha escola.

Já sei até fazer prédio
Em estilo rococó
Que deve ser inspirado
Na galinha carijó
Ou é coisa importada
Do Sertão do Siridó.

De coração dividido
Vou levando meu destino
Já não tenho identidade
Vivo como um clandestino
No Nordeste eu sou Paulista
Em São Paulo, Nordestino.