quinta-feira, 15 de julho de 2010

Para falar de cordel



A Literatura de Cordel é uma das mais antigas manifestações culturais do Brasil, e tem suas raízes fincadas nos pregões, que eram anúncios cantados no Portugal Medieval.




No Brasil, a literatura de cordel foi mais difundida no Nordeste e ganhou este nome devido à forma como era vendida. Os poetas populares criavam suas obras e como eram na sua grande maioria analfabetos, decoravam e em seguida faziam suas apresentações nas feiras e salões das cidades do interior do Nordeste. Muitas vezes a ordem era inversa, isto é, devido à grande capacidade de memorização destes artistas, durante uma apresentação, eles criavam uma nova história e ao mesmo tempo a decorava e passava a cantá-la, ou recitá-la por onde passava.


Alguns autores passaram a imprimir estas poesias e a vendê-las nas feiras e festas populares. Para chamar a atenção de público, eles expunham os livretos em cordéis presos a estacas, o que origem ao nome e para aguçar o interesse do publico cantavam ou recitavam partes do livreto, (folheto) e só retomavam a leitura após vender uma quantidade de livros por ele determinada.


Uma das características principais da Literatura de Cordel é a sua forma, que por sua história e importância para a nossa cultura não deve ser modificada ou deturpada. A base da literatura de cordel são versos de sextilhas, estrofes de seis linhas com versos de sete sílabas. O esquema básico de rima para o cordel e ABCBDB, onde o segundo verso rima com o quarto e com o sexto e os versos um, três e cinco são soltos. Outras formas de rima podem ser apresentadas como ABBAACCDDC, ou AAABCCCB, entre outras.


Exemplo I:






EU E VICENÇA – Autor desconhecido




A - Quando solteiro eu vivia
B - Era o maior aperreio
B - Alem de ser muito feio
A - As muié não me queria
A - Pra toda banda que eu ia
C - Com um camarada meu
C - Ele confiava n’eu
D - Ia beber e fumar
D - Fazer bagunça e brigar
C - E quem ia preso era eu...


Exemplo II:


VAQUEIRO ABADONADO – Não achei o autor


A - Fui um vaqueiro afamado
A - Mas estou velho e cansado
A - E minha luta de gado
B - Vou entregar ao patrão,
C - Sem fugir do evangelho
C - Na tristeza me emparelho
C - Por que um vaqueiro velho
B - Não tem mais disposição.


Qualquer outra forma de poesia, que fuja às regras acima e outras mais complexas, como o martelo, o quadrão, o galope,  como o que vemos abaixo, em respeito a esta arte, não pode ser chamada de cordel.
Sou homem e faço verso
Por que gosto de mulher
Também gosto de café
Outra paixão que confesso.


Para ilustrar este arte segue as belas estrofes inicias de obras primas do Cordel.


Do Cordel “A INTREGA DO CACHORRO COM O GATO”, autor José Pacheco, naturalidade imprecisa. Correntes PE ou Maceió – AL.


A intriga é mãe da raiva
O mau pensamento é pai
Da casa da má querência
O desmantelo não sai
Enquanto a intriga rende
A revolução não cai...


Do Cordel “A PRINCESA GENI E O REINO MONTE DE OURO” editor João José da Silva – Não consegui informação sobre o autor. Um acróstico no final do livro trás o nome Luiz de Lira, que pode ser o nome do autor.


Eis um mistério em poema
Exposto ao nosso cântico
Drama passado num reino
De um povo bem romântico
Que vivera muito além
Do Oceano Atlântico...


Do cordel “O HERÓI JOÃO DE CALAIS” de Severino Borges da Silva – Aliança–PE.


Vinde musas que habitam
As regiões divinais
E banham-se nas santas águas
Das fontes celestiais
Que vou versar o romance
Do herói João de Calais...


O cordel continua vivo e precisa de apoio e divulgação. Para você que gosta, uma dica é a livraria Cortez em São Paulo e a Editora Luzeiro. Busque na Net, você vai encontrar muita coisa boa. Tem também o site da ABLC, Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que mantem viva esta bela tradição cultural.

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