domingo, 7 de agosto de 2011

CORDEL DO NILDO CORDEL- UM RICO E UM MENDIGO

UM RICO E UM MENDIGO X A AIDS E A FOME


Peço a Deus em oração
Clarear meu pensamento
Para eu versar uma história
De tristeza e de lamento
Que mostra que nesse mundo
Não tem primeiro ou segundo
Quando o tema é sofrimento.

Num rico bairro em São Paulo
Esta história aconteceu
Como repórter da rima
Eu narro o que ocorreu
Em poema de cordel
Um dom que bom Deus do céu
Como presente me deu.

De uma rica mansão
Um farto lixo vertia
E à custa desse lixo
Um pobre velho vivia
Pois nele o velho pegava
A comida que matava
Sua fome todo dia.

Nessa mansão residia
Um homem bem sucedido
Com uma linda mulher
E o seu filho querido
Um jovem adolescente
Que viva docemente
Pelo amor protegido.

Já o mendigo vivia
Sem rumo e sem destino
Sua cama era um banco
Sua vida um desatino
Não tenha nenhum legado
Por isso era tratado
Como um cão velho assassino.

Família ele não tinha
Também não tinha um nome
Não vivia, vegetava
Seu inimigo era a fome
Confundia-se com um bicho
Comendo restos de lixo
Miséria era o sobrenome.

Sentado naquele banco
Via tudo acontecer
Policia matar bandido
Gente de fome morrer
Tal qual um espectador
De frente ao televisor
Que nada pode fazer.

Mas como todo vivente
Ele tinha um passado
Do qual ele procurava
Nunca se fazer lembrado
Pois pensava ele assim
Que se lembrar de coisa ruim
Na certa é sofrer dobrado.

Foi quando ele viva
Nas quebradas do sertão
E uma tremenda seca
Acarretou seu torrão
Sua família matou
E como a terra secou
Também o seu coração.

Sozinho o velho mendigo
Amargava o dissabor
A lembrança o torturava
Como um grande ditador
E sonhava ter a sorte
Que muito cedo a morte
Desse cabo a sua dor.

Mas vou deixar o mendigo
Com sua recordação
Para falar do ricaço
Que morava na mansão
Por grades e guardas guardado
Como vive um condenado
Que foi mandado à prisão.

Era o homem um empresário
De grande sabedoria
Com amor e competência
 A seus negócios conduzia
Mas enfrentava um dilema
Em casa um grande problema
Somente dor lhe trazia.

Para o filho dava tudo
Carinho, dinheiro, amor
Sua esposa era uma santa
Amava-o com muito ardor
Tinham a tudo o que sonhavam
Mas juntos os dois enfrentavam
Um tremendo dissabor.

É que o seu único filho
Por eles tão bem criado
Na vida pelos amigos
Foi mal influenciado
Em nome da experiência
Tornou-se por conseqüência
Mais um jovem viciado.

Os dois fizeram de tudo
Pela recuperação
Do filho, porém o mesmo
De tudo abria mão
Dizia: não sou doente
Sou só um jovem pra frente
E viva a badalação.

Como vivemos em um mundo
Onde tudo pode ser
Coberto de preconceitos
Pode então alguém dizer:
Ele é apenas mais um
Mas hoje um risco em comum
Quem tem vício vai correr.

E este risco é a AIDS
Que todo mundo conhece
Porque ela é fato
Cujo risco permanece
Apesar da medicina
Dessa doença assassina
Muita gente inda perece.

Pois bem, nosso adolescente
Contraiu o mal pior
Além disso, era usuário
De pedra, cigarro e pó
Não buscava tratamento
E com isso o sofrimento
De seus pais, causava dó.

Não adiantou esforços
Nem o dinheiro valeu
Toda luta vão em vão
O jovem rico morreu
E mesmo sem ter soberba
Da dor da terrível perda
A família padeceu.

Desesperado seu pai
Não sabia o que fazer
Perdeu da vida o sentido
Quem iria lhe valer
Implorava ao Salvador:
Meu Deus me tire essa dor
Faça-me logo morrer.

Em certa manhã no banco
Da praça ele sentou
Ao lado do mendigo
A quem chorando abraçou
E como seu confidente
Àquele triste vivente
Sua história contou.

Depois de longo silêncio
O mendigo assim falou:
Meu senhor a diferença
Entre nós dois acabou
Porque atroz destino
Num terrível desatino
Duas vidas transformou.

Certa vez em minha terra
Grande seca ocorreu
Batalhei como ninguém
Mas meu esforço não deu
O desgosto me consome
Porque seu moço, de fome
Minha família morreu.

Eu sei que pra quem é rico
Sentido não vai fazer
Onde já se viu de fome
Poder alguém falecer?
Mas o destino é ingrato
E lhe garanto é um fato
O que findo de dizer.

Mas seu moço a natureza
De bela se torna dura
E pode trazer o bem
Mesmo numa desventura
A AIDS deixa destroços
E a ciência faz esforços
Para achar sua cura.

Por isso faço um apelo
Ao grande Deus de Belém
E no final vou pedir
Que o senhor diga amém
Quem sabe que na procura
A ciência ache a cura
Que cure a fome também?

QUEM RI POR ÚLTIMO

Tu penas que és o quê,
A dona dos meus sentidos!
Esqueces que nossos beijos
Já estão desfalecidos
Que se foram com o tempo
E há muito são esquecidos?

Porque passas tão altiva
Tal qual a dona do mundo
Esqueces que o amor
É malandro e vagabundo
E como um bom retirante
Despede-se em um segundo?

Não pises com muita força
Tentando uma esmagação
Pois podes neste momento
Com tua terrível ação
Estar esmagando sim
O teu próprio coração.

O amor vive o passado
Mas ligado no futuro
Enquanto tu julgas ser
Desse amor porto seguro
Ele pode ter fugido
E pulado outro muro.

Então baixes a bola mina
Não quero aqui te frustrar
Mas quem por ti chorou ontem
Hoje pode gargalhar
Quem rir por último é quem faz
Quem riu primeiro chorar.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

CORDEL DO NILDO CORDEL - TANGÊNCIA


Não sei de onde eu venho
Muito menos pra onde vou
Sei apenas que existo
Duvido do que eu sou
Mas não posso ignorar 
Àquele que me criou.

Sou obra de um soberano
Sou membro da natureza
Sou filho de divindade
Por isso tenho grandeza
Sou ator do dia-a-dia
No palco da sutileza.

Não reclamo da má sorte
Agradeço as aventuras
Fico triste se por vezes
Sou vitima de desventuras
Não falo mal dos impuros
Porque não tenho mãos puras.

Canto o canto do vento
Danço com o dessabor
Faço dupla com o tempo
Contemporizo o amor
E para me perfumar
Uso o perfume da flor

Não sou mais do que o pó
Que levanta levemente
Sou a barreira que separa
O imoral do decente
Não sou mais do que ninguém
Sou um homem, simplesmente.