quarta-feira, 9 de junho de 2010

CORDEL DO NILDO CORDEL - O MENINO QUE MORA EM MIM

O menino que mora em mim
 E mais menino que eu
 O menino que mora em mim
 É menino que não cresceu
 O menino que mora em mim
 Faz dele o que já foi meu.

  
O menino que mora em mim
 Carrega um sonho ligeiro
 Navega em mares que não viu
E sonha ser o primeiro
 O menino que mora em mim
 Tem sonhos sem paradeiro.

O menino que mora em mim

 Ainda nem aprendeu
Por completo o beabá
 Da vida que Deus lhe deu
 O menino que mora em mim
 É o menino que já fui eu.

O menino que mora em mim
 Ainda não viu nascer
 O homem que mata a vida
 Tentando a vida viver
 O menino que mora em mim
É dono do seu querer.

 O menino que mora em mim
 É feliz e sonhador
 Não conhece a ténue linha
 Entre o ódio e o amor
 O menino que mora em mim
 Desconhece o que é dor.

  O menino que mora em mim
 Não quer ser o derradeiro
 O menino que mora em mim
 Carrega amor verdadeiro
 O menino que mora em mim
 Prega a paz ao mundo inteiro.

O menino que mora em mim
 Deixa-se ainda chorar
 Tem pureza nos desejos
E beija só por beijar
 O menino que mora em mim
 Quer pelos ares voar.

O menino que mora em mim
 Ainda vive sereno
 O menino que mora em mim
 É um menino pequeno
 E não sabe que o poder
 É um terrível veneno.

O menino que mora em mim
 Quando em mim se achar
 Vai pensar que estar sonhando
 E vai querer acordar
 Pois que nisso se tornou

 Não vai querer aceitar.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

CORDEL DO NILDO CORDEL - CARTA A UMA INGRATA

Pego papel e caneta,

Carregado de emoção
Para escrever uma carta
Com rimas do meu sertão
Endereçada a uma ingrata
Que roubou meu coração.

Ingrata estes meus versos
São só para lhe dizer
Que se sua pretensão
Era me fazer sofrer
Meu sofrimento é intenso
Dói muito meu padecer.

Sentindo a sua falta
Perambulo pela rua
Em cada vulto que encontro
Eu vejo a face sua
E choro desesperado
Na companhia da lua.

Retornado ao meu quarto
Entrego-me ao desespero
Fazendo do pensamento
O meu fiel conselheiro
Sentindo a sua falta
Abraço seu travesseiro.

Depois de muito chorar
Faço do chão meu divã
Dormindo sonho consigo
Quando acordo de manhã
Ainda trago na boca
O gosto de seu baton.

Eu daria a minha vida
Pra este sofrer ter fim
Chorando eu peço aos santos
Que tenham pena de mim
E vou tentar lhe encontrar
Entre as flores do Jardim.

Na solidão do jardim
O vento trás seu perfume
Uma flor em pleno viço
Sua beleza resume
E das abelhas que sugam
Tal flor, eu sinto ciúme.

Então afasto as abelhas
Tentando a flor beijar
Lembrando de seus afagos
Ponho-me tristonho a chorar
Lamentando a triste sina
De quem nasceu para amar.

O vento sopra macio
Com suave mansidão
De Leva toca meu rosto
Fazendo meu coração
Confuso pensar que é
O toque de sua mão.

Já não tenho mais assunto
Estou de planto banhado
Porque sei que é triste a sina
De um homem apaixonado
Que dedicou sua vida
Para amar sem ser amado.

E terminando esta carta
Escrita com emoção
Grafada com minhas lágrimas
No papel da solidão
Deixo para quem amei
Um beijo no coração.